A Caçada ao Outubro Vermelho: 50 anos do caso real

 



Em novembro de 1975, um motim a bordo de um navio de guerra soviético levou a uma perseguição pelo Mar Báltico, envolvendo todos os recursos disponíveis dos soviéticos.

Os motins navais há muito tempo despertam o imaginário popular, mas, em sua maioria, as rebeliões abertas em alto-mar são relegadas à Era das Grandes Navegações em séculos passados. Uma exceção notável ocorreu na Marinha Soviética há 50 anos e quase levou ao uso de armas nucleares.

O motim a bordo da fragata Storozhevoy é ainda mais notável pelo fato de o Kremlin ter tentado encobrir sua existência, com detalhes vindo à tona apenas uma década após seu sangrento fim.

A dramática história e suas potenciais implicações inspiraram o icônico romance de Tom Clancy sobre a Guerra Fria, que por sua vez serviu de base para o filme "A Caçada ao Outubro Vermelho".

No incidente real, o protagonista foi Valery Mikhailovich Sablin, de 36 anos, oficial político a bordo da Storozhevoy, uma fragata de guerra antissubmarino.

Na época, o Storozhevoy era um dos navios de combate de superfície mais avançados em serviço da Marinha soviética. Foi comissionado em 1974 e designado para a Frota do Báltico.

Ao contrário do filme, Sablin não buscava desertar, mas sim instar a uma reconsideração da revolução comunista, pois estava convencido de que o regime soviético havia se desviado perigosamente dos princípios marxistas em que acreditava.

O plano de Sablin era aproveitar o entusiasmo em torno do aniversário da revolução de 1917, comemorado todo dia 7 de novembro. Na época, a Storozhevoy estava ancorada em Riga, na República Socialista Soviética da Letônia. A maioria dos relatos concorda que, além de seus mísseis antissubmarino principais, a fragata era totalmente armada, incluindo mísseis terra-ar para defesa antiaérea, torpedos antissubmarino e canhões de 76 mm.

Sablin queria assumir o controle do Storozhevoy e navegar para o leste, até Leningrado, onde chegaria ao lado do navio-museu Aurora (o cruzador que foi e continua sendo um poderoso símbolo da revolução de 1917) e incitaria algo como uma revolta contra o regime vigente, liderado pelo primeiro-ministro Leonid Brezhnev.

O motim começou em 8 de novembro de 1975 e Sablin conseguiu o apoio de outros marinheiros. Com um terço da tripulação de 194 homens em licença em terra, Sablin prendeu o comandante do navio. Os oficiais restantes foram convocados para uma reunião, onde Sablin explicou a situação. Os oficiais que se recusaram a participar do motim também foram presos.

Entretanto, dois tripulantes conseguiram escapar da fragata. Quando Sablin percebeu que seu plano provavelmente havia sido descoberto, desistiu da ideia de chegar a Leningrado e, em vez disso, decidiu navegar para águas internacionais, de onde poderia transmitir o discurso que havia preparado e, esperava ele, desencadear uma nova revolução.




45 minutos após a partida do Storozhevoy, outros navios iniciaram a perseguição. As autoridades soviéticas estavam convencidas de que ele devia estar prestes a desertar para o Ocidente.

Por volta das 6h da manhã, o primeiro-ministro soviético foi acordado e informado da situação. Aterrorizado com a possibilidade de os modernos navios da classe Krivak I caírem em mãos inimigas, Brejnev exigiu a destruição do Storozhevoy a qualquer custo.

Na manhã do dia 9, duas aeronaves de patrulha marítima Il-38 May localizaram o navio. Logo depois o Storozhevoy foi acossado por bombardeiros Tu-16, que com passagens baixas e tiros do canhão de ré, forçaram Sablin a mudar de curso, em direção à ilha sueca de Gotland.

Bombardeiros táticos Yak-28 Brewer da Força Aérea soviética receberam ordens de atacar um "navio estrangeiro". O jatos foram para o ar e atacaram um cargueiro soviético com bombas convencionais. A tripulação do navio pediu ajuda por rádio e o ataque foi cancelado, sem feridos.

Cerca de 30 minutos depois, os Yak-28 atacaram outro navio e novamente outro erro, bombardeando uma fragata perseguia a Storozhevoy.

Quando a ordem chegou para atacar com mísseis anti-navio, membros da tripulação libertaram o capitão e outros oficiais detidos, que então se armaram e invadiram a ponte. No confronto que se seguiu, Sablin foi baleado na perna e preso. O capitão libertado então enviou uma mensagem informando que o motim havia terminado.

Então começou outra corrida contra o tempo. Dois Tu-16 decolaram e não receberam as ordens para cancelar o ataque.

Os Tu-16 continuaram a perseguir o Storozhevoy com a intenção de destruí-lo, porém uma falha de radar não permitiu aos bombardeiros localizar o ex-amotinado e abortaram o ataque.

Sablin foi condenado à morte por traição e executado em agosto de 1976. Os outros amotinados foram libertados.



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